quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A Rainha Maria Luísa de Parma segundo Goya


O Retrato de Maria Luísa de Parma é uma pintura concebida a óleo sobre tela em 1789 por Francisco de Goya, retratando a rainha D. Maria Luísa de Parma, mãe da rainha portuguesa D. Carlota Joaquina de Bourbon.
Maria Luísa surge trajando a moda da época, ao contrário dos anos posteriores em que viria a surgir em trajes de maja, o típico traje tradicional espanhol. Nesta tela o neoclassicismo dos primeiros anos de Goya é evidente, realçando os seus tradicionais fundos simples em tons oliva, destacando a personalidade retratada. O maior foco de luz na tela, incide, não sobre o rosto, mas sobre o peito de Maria Luísa.
Nenhuma outra consorte espanhola foi tão odiada, acusada ou abusada como a moralmente corrupta Maria Luisa. Teve numerosos amantes enquanto seu marido se ocupava em armar e desarmar relógios. O mais famoso dos amantes, foi Manuel Godoy apelidado “El Choricero”, chegou a ser Príncipe da Paz, serviu como Primeiro Ministro por anos. Sua paixão pelo jovem Manuel foi a causa dos vários problemas da Espanha da década de 1790 à primeira década do XIX.
Enquanto Maria Luísa governava, porque tinha um genio forte e dominava seu marido o rei, a Espanha foi presa fácil das forças de Napoleão.
Apesar disto, Maria Luísa de Parma educou os seus filhos e casou, juntamente com o marido, a sua filha primogénita, Carlota Joaquina de Bourbon com o infante João, futuro João VI de Portugal, em 1785.
Diz-se que aos 40 anos, quando já não tinha dentes, usava pérolas no lugar deles

Sombras de Goya


Francisco de Goya é um artista que sempre me agradou mais pela sua fase rococó e no romantismo, muito pelo uso das cores e suavidade nos retratos. Quando via os desenhos feitos em litografia me chocavam pela ironia e agressividade. Depois de assistir ao filme, Sombras de Goya e pesquisar sobre o contexto histórico das gravuras, pude perceber a grandeza de um artista, que usou a sua arte como meio de expressar a sua raiva e indignação num mundo turbulento, onde ninguém esta totalmente isento de ser atingido.

O Guarda Sol, 1777 - Goya



O Duque de Osuna e sua família, 1788 – Goya
Graças à amizade que travou com os duques de Osuna, Goya iniciou sua ascensão na corte. Este quadro mostra o profundo carinho que o pintor sentia por seus protetores e seus filhos.



A Galinha Cega, 1788 – Goya.
Originalmente chamada A Brincadeira da colher, essa obra tem notável dinamismo aliado á perfeita representação dos movimentos e posturas.

Sombras de Goya é um bom filme é uma ótima história, um exemplo clássico. Não é a biografia do pintor espanhol Francisco Goya, mas o relato de uma época importantíssima no contexto histórico. Contexto este que é narrado com estrema sensibilidade e poesia trágica, no qual Goya assiste a tudo e registra na sua arte.
A história se passa em 1792, na Espanha, quando o pintor Francisco José de Goya y Lucientes era o artista mais famoso do país, cuja carreira evoluiu de simples desenhista de tapeçarias para pintor oficial da Família Real. Contratado por reis, burgueses e pela Igreja para registrá-los para a posteridade, o artista levava uma vida de privilégios - mesmo manifestando-se contra a mesma Igreja que o contratava. Mas os tempos são difíceis e a Inquisição Espanhola, age de forma implacável; sendo uma corte religiosa, era operada por autoridades da igreja. Porém se uma pessoa fosse considerada herege, a punição era entregue às autoridades seculares, pois "a igreja não derramava sangue". A tortura freqüentemente era usada como modo de penitência. As punições variavam: da mais comum (quase 80% dos casos), que era a vergonha pública (obrigar o uso do sambenito, uma roupa de penitente, usar máscaras de metal com formas de burro, usar mordaças) até ser queimado em praça pública, quando o crime era mais grave. A morte pelo garrote (estrangulamento) era usada para os arrependidos, como é mostrada no filme. Essas punições eram feitas em cerimônias públicas, chamadas autos-de-fé, que aconteciam uma vez por ano na maioria dos casos. Algumas pessoas acusavam outras por vingança, ou para obter recompensas da Coroa. A própria Coroa Espanhola beneficiava-se, ao desapropriar os bens dos conversos. Na espanha em particular, a inquisicao foi especifica em alguns aspectos: como era um tribunal eclesiástico, mas tinha poderes, que lhe eram conferidos pela autoridade real, que desde Fernando e Isabel (os reis católicos do século XV) acreditavam que a Inquisição espanhola seria um instrumento na política da chamada “limpeza de sangue”, contra os descendentes de judeus e de mulçumanos convertidos. Esta Inquisição foi o resultado da Reconquista da Espanha das mãos dos muçulmanos, e da política de conversão de judeus e muçulmanos espanhóis ao catolicismo.


Inquisição, 1815 – Goya

Algumas cenas do filme foram extraídas diretamente dos trabalhos políticos de Goya e recriadas com enorme beleza sombria pelo diretor de fotografia; ele inspirou-se especificamente na serie de gravuras “Los Caprichos”. Nessa série, Goya investe contra o poder detido pelos monges, pelo clero e pelos inquisidores, que via como símbolos do mais puro ódio, revelando-se assim um firme defensor do Iluminismo. Uma razão provável para a revolta de Goya seria o fato de a Igreja incentivar a superstição, perseguindo e condenando supostas bruxas e feiticeiras, e acabando, por dessa forma, afirmar a existência das mesmas. Desta serie, pertencem estas gravuras:



Desenhos para a serie Os Caprichos,1797-1798, giz









Estilo Goya
Goya foi um pintor eclético, que partindo do rococó, se entrega à cor com fúria e liberdade e vai sucessivamente descobrindo a beleza dos cinzentos e dos pretos, sem com isso renunciar às cores intensas. Percorre o neoclassicismo de fins do século XVIII e se apropria do romantismo quando na exaltação da cor. Sua produção é de uma extraordinária abundância, originalidade e vai se diversificando à medida que muda sua maneira de perceber o mundo. Nas obras de Goya identificamos impulsos e maneiras de executar que vão posteriormente constituir princípios de diversos desenvolvimentos importantes da história da pintura nos séculos XIX e XX. Pela técnica pictórica dos seus últimos anos, em que usa a justaposição de pinceladas de cores puras para formar novas cores e delimitar os contornos; assim os impressionistas reconhecem-no como um precursor. A deformação da realidade, tão significativa nas suas gravuras, é nitidamente expressionista. E tem em comum com os surrealistas as visões fantásticas e oníricas que povoam a sua excepcional obra gráfica.
A partir de certa altura, Goya começa a padecer de uma doença que lhe provoca uma surdez progressiva. Começa então a isolar-se. Deixa de ver, como acontecera com os cartões, o lado agradável da humanidade, fixa-se nos seus defeitos, nos seus aspectos grotescos.

Sombras de Goya também merece aplausos por familiarizar a platéia com algumas das grandes obras da época. Não apenas as de Goya, mas também as de outros pintores importantes como O Jardim das Delícias de Bosch e As Meninas de Velásquez. E uma das melhores seqüências do filme mostra passo-a-passo o processo de confecção de uma gravura.


Os Fuzilamentos do Três de Maio de 1808, 1814 – Goya
Em 2 de maio de 1808, os habitantes de Madrid se lançam contra o ocupante francês: duas semanas antes, um golpe de Estado expulsara o Primeiro Ministro Godoy. O oportunista arrastara o país a uma aliança com a França, contra a Inglaterra, provocando a ruina do país, a perda da frota e das colônas na América, e facilitado a ocupação pelas tropas de Napoleão. Caindo Godoy, Carlos IV abdicou em favor do filho Fernando. Mas Napoleão tinha idéia de entregar o trono espanhol a seu irmão alcoólatra, José. O povo de Madrid, atacou as tropas de Murat ( general frances) que reagiu com brutalidade. A repressão foi impiedosa, como mostrou Goya em quadros e gravuras de célebre realismo. Mas as execuções sumárias, a pilhagem, as violações pelo exército francês não impediram a revolta de se estender pelo país. Numerosos exércitos franceses são liquidados por esta guerra de independência de gênero desconhecido. Inventou-se a expressão guerilla (pequena guerra, em espanhol) para qualificar os ataques tipo surpresa de combatentes ocultos que deixavam pouca oportunidade aos grupos de soldados isolados. Napoleão exilou a família real espanhola na França enquanto o alcoólatra José Bonaparte servia como rei da Espanha até que um levante popular o forçou a fugir. Ninguém captou melhor o sentimento de ódio e de vingança pelas humilhações sofridas pela gente de Madri naquela ocasião como Goya o fez numa série de 82 estampas denominadas de Los desastres de La guerra (1810-1820). Durante o governo de Napoleão Bonaparte a Inquisição foi suspensa na Espanha, porém foi reinstalada quando Fernando VII de Espanha subiu ao trono.
Embora o seu sustento continuasse a depender da pintura de retratos dos membros da sociedade espanhola e de figuras francesas, é na guerra que Goya vai encontrar o seu tema preferido, sobretudo na guerra de resistência dos espanhóis contra os soldados de Napoleão, que se caracteriza por uma explosão de ódio e crueldade numa escala sem precedentes na história militar da Europa É importante mencionar a forma inovadora como Goya representa a guerra, afastando-se da visão de palco de grandeza e de honra com que outros artistas da época a representavam. Talvez por enxergar na guerra não só a heróica vitoria, mas a cruel derrota dos homens.


Grande Hazaña! Com mortos!, 1810 - da coleção Os Desastres da Guerra de Goya


Eles são feras!, 1810 – da coleção Os Desastres da Guerra de Goya

Rostos atormentados
Em muitas de suas telas é comum perceber fisionomias de traços exagerados e contorcidos. Goya buscava exacerbar expressões de aflição e agonia em seus personagens, de maneira a transmitir tanto os sentimentos do povo espanhol, traumatizado pelas guerras, quanto os seus próprios, já que estava abalado por grandes sofrimentos causados tanto pela doença quanto pela perda de amigos e parentes.

Que sacrifício, 1799 – da coleção Os Caprichos de Goya

Os quadros mais conhecidos

Oferecidas ao rei Fernando IV, sucessor de Carlos IV, as obras "O Dois de Maio de 1808" e "Os Fuzilamentos do Três de Maio de 1808" (ambas de 1814) retratam uma batalha entre civis e membros da tropa de Napoleão, que aconteceu no dia dois, e a represália dos franceses, no dia seguinte. Já "A Maja Desnuda" (1800) e "A Maja Vestida" (1800/05) trazem a mesma personagem em posição provocante, primeira totalmente nua, e depois vestida com uma sensual camisola colada ao corpo.


La Maya desnuda, 1800 – Goya


A Família de Carlos IV, Madrid, 1800- Museu Del Prado.
Retrato da família real espanhola, onde, por um lado, Goya não favorece os seus modelos, retratando um grupo pouco atraente, e, por outro lado, inclui a sua figura a posar em fundo, já não como humilde servo, mas antes numa postura de autoconfiança